Numa crise de pânico a pessoa reage com sintomas de medo quando não há nada em volta que pareça justificar aquelas reações.

Esta experiência de “medo sem causa” é assustadora, pois sempre buscamos ligar o sofrimento a uma causa identificável, visível. Como é difícil ficar com este “medo sem objeto”, a pessoa começa a temer as consequências daquele estado, como se aquilo fosse levar a alguma consequência catastrófica, a morte, a um desmaio, como se não fosse passar nunca…

A experiência de uma crise de pânico leva a uma vivência psicológica de desamparo, pela falta de referências, pela falta de sentido. A pessoa se sente entregue ao destino, sem proteção nem garantias.

Neste momento existe um recurso dentro da pessoa que pode ajudá-la. É próprio da natureza humana uma capacidade de vivenciar algo e ao mesmo tempo se observar na vivência. Temos dois níveis de experiência mental; enquanto estou comendo um pedaço de chocolate, posso também me perceber comendo, observar o sabor, os movimentos da boca, etc.

A consciência pode tomar outros processos da mente como objetos de atenção. A consciência pode dirigir seu foco para sensações, emoções e pensamentos sem estar totalmente identificada com estes processos.

No caso de um ataque de pânico, a pessoa pode aprender a ativar esta consciência observadora para observar suas reações numa crise de pânico.

Ao mesmo tempo em que está lá, ansiosa, aflita, com aquelas reações em seu corpo e aqueles pensamentos catastróficos, mantém parte de sua presença centrada em sua consciência, observando aquilo que se desenrola no teatro de sua mente e de seu corpo.

Surge assim, a experiência direta e ao mesmo tempo a testemunha da experiência. Eu estou sofrendo, mas também observo minha dor, a partir de um lugar seguro, dentro de mim.

Ao fazer isto algumas mudanças começam a acontecer. A atitude de se observar de modo neutro a partir do centro da consciência ajuda a criar um ponto de referência no meio do caos, um lugar interno de estabilidade.

Eu vou deixando de estar totalmente entregue a experiência desamparada de pânico. Na medida em que posso observar o que sinto, passo a me acompanhar, com possibilidade de aceitar o que sinto. Neste momento, “eu sou comigo mesmo”.

Esta presença de si consigo durante um episódio de tanto sofrimento, produz uma transformação fundamental no processo do pânico, pois aquilo que parecia sem sentido, avassalador, vai se relativizando, sendo uma experiência que volta a se repetir e pode sempre ser observada.

Depois de passada a experiência da crise é importante que o sujeito também aprenda a expressar aquilo que viveu através de palavras – faladas ou escritas – para que aquilo que era da ordem do indizível e insuportável, vá ganhando forma e contorno. A nomeação ajuda a tornar familiar o que era estranho e assustador.

Neste processo a pessoa aprende a “ser consigo mesma” e a dar continência para aquilo que parecia totalmente sem sentido e parecia ameaçar tanto sua experiência de ser.

A crise de ansiedade e pânico, uma experiência de “vulnerabilidade do ser”, vai se transformando e se tornando uma experiência suportável, cada vez menos assustadora. Assim as crises e ataques de pânico vão se enfraquecendo gradativamente.

(por Artur Scarpato)

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