Muitos eventos na vida tem potencial traumático. Alguns eventos são claros como acidentes, doenças, perdas repentinas, assaltos, sequestros, maus tratos físicos, traição etc. Porém há formas de trauma que decorrem de situações interpessoais como negligência, abandono, bullying, humilhação, abuso etc. Muitas situações relacionais não decorrem de um evento único, mas se repetem ao longo do tempo, gerando efeitos traumáticos que só poderão ser percebidos um tempo depois.
Eventos perturbadores tendem a ser elaborados naturalmente conforme a pessoa lembra, pensa, conta para outras pessoas sobre o que aconteceu, escreve, sonha etc. Há mecanismos naturais de processamento que permitem que uma experiência emocionalmente difícil seja digerida e resolvida internamente ao longo dos dias ou semanas após o evento perturbador. Porém algumas experiências foram intensas demais para serem resolvidas naturalmente e se constituem como memórias traumáticas. Esta desestabilização excessiva ativa defesas de proteção que se cristalizam e permanecem ativas como se a experiência traumática nunca tivesse terminado.
Estes traumas se manifestam como padrões persistentes de respostas defensivas, sensações corporais desagradáveis, crenças negativas, percepções distorcidas, comportamentos automáticos e afetos disfuncionais que tendem a se repetir indefinidamente. Estas memórias traumáticas permanecem cristalizadas na rede de memórias implícitas, com pouca capacidade de se transformar, apenas disparando reações repetitivas, como revivências, sempre que um gatilho do presente reative algo do trauma passado. A memória traumática se recusa a virar passado.
Esta reativação das memórias traumáticas pode ser inconsciente – sem a pessoa perceber por que reage daquele modo – contaminando e tingindo a vida presente com as dores do passado, afetando e percepção do presente e a expectativa de futuro. A meta terapêutica é transformar estas revivências em memórias normais, deixando assim o passado ao passado.
Os traumas estão na origem de vários transtornos psicológicos, sendo o elemento central do Estresse Pós-traumático e do Trauma Complexo, além de ter uma participação fundamental em quadros como os Transtornos de Ansiedade, Depressão, Transtorno Bipolar, Transtorno Borderline, Transtornos Dissociativos, TDAH etc. Dificilmente podemos trabalhar com o sofrimento psicológico sem uma atenção especial para a história dos traumas e suas consequências na vida de uma pessoa.
A TERAPIA
A meta principal da psicoterapia do trauma é processar e resolver as memórias traumáticas que limitam a presença, a capacidade vincular e a potência criativa, que se perpetuam em padrões de comportamento, crenças e afetos disfuncionais e geradores de sofrimento. A reintegração das memórias traumáticas e sua transformação reabre o potencial do presente como experiência inédita e não mais como eterna repetição de um passado dolorido.
Desde os trabalhos pioneiros de Pierre Janet no final do século XIX até hoje, os tratamentos do trauma costumam ser estruturados em três etapas: Estabilização, Processamento e Integração.
A estabilização é a fase de preparação para a intensidade do trabalho, de desenvolver recursos de regulação emocional, criar um vínculo terapêutico seguro e aumentar a janela de tolerância preparando para a fase seguinte.
Na fase de processamento se acessam as memórias traumáticas truncadas para que possam ser transformadas e reintegradas na rede de memórias associativas. É o momento que permite uma resignificação da experiência vivida, onde a perspectiva do eu atual se mescla com a perspectiva do eu do passado, podendo gerar novas percepções e novas crenças. Nesta fase também reconectamos com o trauma no corpo, trabalhando com padrões cristalizados de hiperativação ou hipoativação autonômica, permitindo completar respostas corporais de luta e fuga, descarregar tensões, descongelar e recuperar o equilíbrio.
Na fase de integração é possível voltar a sentir, rever e recontar as experiências vividas de uma nova perspectiva, fazendo experimentações a partir da maior disponibilidade e abertura para o presente e buscando novas perspectivas de futuro.
Na clínica psicológica temos técnicas específicas na terapêutica dos traumas psicológicos e suas patologias. As principais que utilizamos em nossa clínica são EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento Através do Movimento dos Olhos), Brainspotting e Experiência Somática.
Artur Scarpato: Psicólogo Clínico (PUC SP) com 30 anos de experiência clínica. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC SP. Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da USP e em Cinesiologia Psicológica pelo Instituto Sedes Sapientiae. Trabalha com EMDR, Brainspotting e Experiência Somática. Desenvolve um tratamento especializado para pessoas com Traumas Psicológicos, Síndrome do Pânico e Fobia Social.