A crise de pânico parece uma ameaça de ruptura interna, onde o “eu” é invadido por forças que o ultrapassam. O “eu” é aquilo com que me reconheço e me identifico, minha identidade, meu pensamento e meu corpo, como eu habitualmente os reconheço, dentro de certos padrões de estabilidade e funcionamento.
De repente as reações que brotam em mim parecem descontroladas, o coração começa a bater sem razão, as mãos gelam, a mente produz pensamentos catastróficos, e eu não tenho mais controle…
Eu fico como um barco à deriva numa tempestade de ondas gigantes, descontrolado, inundado, podendo virar e afundar a qualquer momento; não há nada que eu possa fazer, nem um lugar seguro onde eu possa ficar. É o estado de pânico puro.
Com a repetição destas experiências, a tolerância da pessoa às suas reações corporais vai diminuindo, ela passa a temer cada vez mais as reações em seu corpo, começa a monitorar cada sensação diferente como possível sinal de perigo e a evitar fazer coisas que possam causar reações temidas. Inicia-se assim um processo de restrição, limitação progressiva e perda de segurança.
O processo de superação deste estado de insegurança está em (1) compreender melhor as reações que estão ocorrendo para se deixar de tentar (impotentemente) lutar contra as ondas e (2) gradativamente, aumentar a tolerância a estas reações do corpo para que a pessoa possa aprender a conviver com certo grau de descontrole sem acreditar erroneamente que este estado vai levá-la ao colapso. Quanto mais a pessoa teme suas reações, quanto mais se desespera pela falta de controle, mais ansiosa fica e consequentemente maiores serão as reações em seu corpo. É a luta contra o descontrole e o entrar em desespero pelo que está ocorrendo que criam um estado mais caótico dentro de si.
Deixar vir, esta é uma atitude a ser conquistada.
Na verdade, a tempestade da crise de pânico não é capaz de “virar o barco”, apesar da pessoa acreditar piamente, durante uma crise, que seu barco está afundando.
(por Artur Scarpato)