Uma das características típicas de uma pessoa com um transtorno ansioso é o comportamento de evitação. Por exemplo, uma pessoa com Transtorno do Pânico vai evitar situações onde imagina que possa passar mal ou vai evitar fazer algo que lhe traga alguma sensação corporal temida, uma pessoa com fobia vai evitar a proximidade com aquilo que é objeto de seu temor, uma vítima de estresse pós traumático vai evitar algum estímulo associado ao evento traumatizante, etc.
O comportamento de evitação tem uma função protetora, de buscar prevenir um sofrimento. Porém, ao longo do tempo este comportamento traz um forte revés por manter a pessoa com o medo, impedindo-a de transformar aquela memória emocional que associa uma sensação corporal, um objeto ou uma situação social a perigo.
A evitação acaba tendo um efeito deletério de potencializar e manter o medo, pois a cada evitação aquilo que é temido – seja algo fora ou a própria reação interna de ansiedade – é reforçado na mente como algo ameaçador e que deve ser evitado.
Portanto, para que a pessoa possa superar um transtorno de ansiedade é importante desenvolver comportamentos de enfrentamento, com exposição ao que é temido. Através deste processo ocorre possibilidade de aprendizado e transformação deste padrão ansioso e evitador.
Porém é muito importante frisar que o processo de exposição deve ser gradual, aumentando progressivamente a tolerância da pessoa aos graus crescentes de ansiedade.
Podemos imaginar uma pessoa traumatizada que não entra na água pois tem pavor de se afogar. Simplesmente jogá-la no meio de uma piscina funda não é um bom modo de ajudá-la a perder este medo. Ao contrário, esta experiência pode ter o efeito de retraumatização, aumentando ainda mais o medo e a resistência à mudança.
É comum uma pessoa com Pânico ter medo de sair sozinha e ter uma crise. Muitas vezes a família e os amigos insistem que ela saia sozinha e enfrente seus medos de frente, que seja forte e corajosa. O conselho é bem intencionado, porém desconsidera os riscos de retraumatização.
A exposição à situação temida deve ser gradual, em passos mais lentos, com avanços e recuos, com o tempo necessário para desenvolver:
– habituação às reações internas (emocionais e corporais),
– desenvolvimento da auto-regulação
– superação das associações traumáticas
– diferenciação das cognições negativas
Este processo de exposição gradual e controlado é que ajuda a superar as ansiedades que deixavam a pessoa paralisada, muitas vezes por anos.
A exposição gradual é uma das estratégias e etapas de um tratamento psicológico especializado para Transtornos de Ansiedade.
(por Artur Scarpato)