A mente ansiosa teme o futuro, esperando que algo ruim aconteça. É comum na Síndrome do Pânico a pessoa temer uma catástrofe, como perder totalmente o controle, enlouquecer ou morrer.
A perspicácia de Donald Winnicott (*) lhe permitiu perceber que o maior temor de uma pessoa, pode na realidade já ter sido vivido. A catástrofe temida no futuro pode ser reflexo de um trauma passado, algo vivido mas psicologicamente não assimilado.
Uma experiência traumática é subjetivamente intolerável e não integrada, sobrevivendo na memória como um aglomerado de elementos fragmentados: afeto, imagens, sensações, respostas motoras inacabadas, etc.
Muitas vezes o medo que uma pessoa com Síndrome do Pânico tem de vir a enlouquecer deriva do trauma de um ataque de pânico onde ela já se sentiu enlouquecendo. Seu medo de morrer deriva na verdade de um ataque de pânico onde já se sentiu morrendo, sem nenhum amparo.
O trauma já foi vivido, mas não assimilado, nem integrado. Nestes casos a sombra do trauma continua a rondar e apavorar. Porém isso não é percebido como pertencente ao passado, mas como algo projetado no futuro, num horizonte temido.
É necessário ajudar o sujeito a revisitar o trauma passado para assimilar o que foi vivido.
A assimilação do trauma se faz através de dois ingredientes importantes:
– o processo deve ser gradual, titulado, de pouco em pouco, para que seja possível fazer uma integração dos elementos que estavam desconectados.
– o processo ocorre num campo vincular de confiança. A presença do terapeuta como testemunha e fonte de apoio ajudam a tornar suportável aquilo que outrora havia sido intolerável. O compartilhamento da experiência favorece sua integração.
Através deste processo de integração, o trauma perde sua força como sombra ameaçadora e o futuro deixa de ser o horizonte temido do colapso.
* WINNICOTT D W. FEAR OF BREAKDOWN. Int. Rev. Psycho-Anal.(1974) 1, 103 London.
por Artur Scarpato