Toda emoção ocorre como uma onda, com começo, meio e fim. A onda emocional cresce, alcança um pico de intensidade e começa a diminuir, até se dissolver. A tristeza vem, alcança seu zênite, diminui e passa. Porém, em algumas situações, as emoções não vão embora e ficam como um estado constante, como uma tristeza sempre presente, um medo que sempre ronda… Uma das funções do trabalho de regulação emocional é ajudar o organismo a sair deste estado cristalizado de ativação. É necessário promover a descarga da tensão emocional, para que a tristeza dê lugar a serenidade, para que o medo dê lugar a calma.
Um fenômeno comum nos Transtornos de Ansiedade é uma dificuldade desta descarga. Quando a onda de ansiedade/medo poderia começar a baixar, ela sobe novamente, quando poderia descarregar, reativa e sobe. Assim a pessoa não acalma nunca, não descarrega a tensão emocional.
Este processo é influenciado por um fenômeno denominado kindling, em que o cérebro fica sensibilizado a disparar repostas de ansiedade cada vez mais facilmente. No momento em que a emoção começaria a baixar, surge um novo disparador que impede a descida. Este disparador pode ser um pensamento negativo, uma fantasia catastrófica, um medo de relaxar e perder o controle. Assim a pessoa permanece ansiosa sem ter experimentado realmente alívio e calma.
Para descarregar a tensão o corpo dispõe de reações ancestrais de tremores e movimentos involuntários. Neste momento, se o sujeito não se entrega a estas reações involuntárias, impede o processo de autorregulação somática. O medo do descontrole inibe as respostas que seriam necessárias para completar a onda emocional.
No trabalho com os transtornos de ansiedade precisamos restaurar a capacidade regulação emocional, ajudando a completar a onda emocional, de carga seguida de descarga, de tensão seguida de relaxamento, com atenção especial aos processos involuntários de descarga. Para isso exploramos estratégias, técnicas e recursos para ajudar a completar respostas de descarga, saindo do estado crônico de tensão e ansiedade.
por Artur Scarpato.