A pandemia coloca toda a sociedade num estado de perigo e ameaça. É um Trauma Coletivo. Lidamos com uma ameaça sorrateira, um vírus invisível que flutua no ar, podendo ser inadvertidamente aspirado. Para piorar, lidamos com um rastro de muitas mortes decorrentes da covid e deterioração econômica.
Quem está em home office vive uma situação aparentemente mais tranquila do que quem precisa sair para trabalhar, mas que também contém grandes desafios.
Dentro de casa nossas respostas inatas de defesa ativa, como enfrentar e lutar são pouco eficazes para lidar com a ameaça do vírus. Estar em casa ativa mais respostas defensivas de evitação e recolhimento para se proteger.
Por um lado, isso é tranquilizador por nos levar a um lugar seguro, supostamente protegido de contaminação. Por outro lado, pode favorecer estados somáticos de imobilidade e paralisia, que se fazem acompanhar de sentimentos como impotência, vulnerabilidade e desamparo. Por esta razão é comum ver tanta gente mais deprimida ou ansiosa neste período.
Ao lidar com a pandemia devemos cuidar para não sermos capturados no carrossel de respostas de imobilidade e medo impotente, duas características marcantes que surgem nas experiências traumatizantes.
Há algumas estratégias que nos ajudam a lidar melhor com o desafio da pandemia. Como princípio geral é necessário cultivar para si um senso de agência e controle da própria vida. O controle das coisas pequenas no cotidiano ajuda a diminuir o desamparo frente a ameaça coletiva.
Neste contexto, há algumas sugestões para este período, como:
– Criar rotina, organizando as atividades no tempo.
– Manter o corpo ativo, com formas de atividades física e movimento
– Ter momentos tanto de trabalho como de diversão, de concentração como de dispersão, de esforço voluntário como de entrega involuntária.
– Buscar uma atitude de curiosidade e aceitação no contato com o próprio mundo mental e cultivar uma atitude de autocuidado.
– Manter conversas periódicas por áudio, vídeo e se possível, encontros pessoais – devidamente protegidos – com pessoas de confiança, aproveitando o processo de corregulação dos estados emocionais.
O desafio trazido pela pandemia pode tanto se tornar uma experiência traumatizante, como um período onde aumentamos nossa tolerância com as dificuldades da vida; podendo desenvolver novos recursos internos, encontrar novos sentidos e nos conectarmos com a coletividade a qual pertencemos.
– Contribuí como entrevistado para dois artigos da Revista Veja sobre os efeitos psicológicos da quarentena.
Acesse uma das matérias por aqui (ed 2686/maio 2020) e a segunda matéria por aqui (ed 2698 /agosto 2020)
* por Artur Scarpato