Há passos bem estabelecidos no tratamento da síndrome do pânico. Uma abordagem eficaz foca em três vetores principais: aumentar a capacidade de regulação emocional, ampliar a janela de tolerância e processar as memórias traumáticas ligadas as primeiras crises de pânico. Seguindo este caminho, sensações, emoções e pensamentos deixam de ser vividos como ameaçadores e podem ser integrados ao funcionamento mental do sujeito. Com um tratamento focado nestes vetores, a maior parte dos pacientes consegue superar as crises de pânico e voltar a uma vida livre das limitações do pânico.
No entanto há pacientes que não respondem tão bem ao protocolo padrão e continuam apresentando crises de pânico, apesar da utilização de técnicas e estratégias usualmente efetivas.
Observamos que a maioria destes casos difíceis tem um elemento em comum: traumas complexos. O que leva a traumas complexos são experiências traumáticas precoces, traumas relacionais repetitivos que levam a processos de dissociação, desregulação emocional, problemas vinculares etc.
Na dissociação uma parte da personalidade cinde do restante durante o trauma e a pessoa segue funcionando de modo “aparentemente normal”. No entanto a parte dissociada continua na sombra e retorna em alguns momentos causando sintomas e estados mentais disfuncionais, relacionados a experiência original do trauma. Experiências repetidas de negligência ou abuso com os cuidadores no início da vida podem levar a criança a estados de desamparo e desorganização que ficam dissociados em redes de memória implícita.
Quando a pessoa com trauma complexo entra numa crise de pânico, sua experiência inicial de medo das reações do corpo se amplia, reverberando angústias antigas e profundas. No tratamento, quando vamos processar a memória de uma crise de pânico, nos deparamos com um buraco mais profundo em que surgem camadas profundas de angústia e desorganização, que dificultam que o processamento e a integração se completem.
Os casos de pânico com trauma complexo exigem uma nova direção do tratamento. É necessário um investimento mais intenso na criação de recursos de estabilização e regulação emocional, na construção de um vínculo terapêutico seguro, na identificação e integração das partes dissociadas, demandando um processamento mais gradual e lento.
Seguindo um caminho terapêutico adequado, observamos que mesmo as pessoas com traumas complexos conseguem superar as restrições trazidas pelos sintomas da Síndrome do Pânico.
* por Artur Scarpato