O Estranho que me Habita – Ansiedades, Traumas e suas questões

O continuum segurança – ameaça no campo do trauma

Uma das metas da psicoterapia é restaurar o sentimento de segurança. Após experiências traumáticas como perdas, acidentes, doenças, rompimentos, traições, entre outros, a pessoa permanece presa num estado de ameaça, muitas vezes por anos após o evento .

Estar no campo da ameaça pode tanto significar ficar preso num estado hiperativo ou hipoativo. No estado hiperativo o sujeito fica com graus aumentados de alerta, ansiedade, inquietação e irritação. No estado hipoativo fica abatido, desligado, congelado e sem esperança. Tanto o estado hiperativo como o hipoativo emergem de um sistema cristalizado no campo da ameaça e insegurança em decorrência de traumas não processados.

O estado de segurança, por seu lado, favorece a saúde, a curiosidade, alegria, criação de vínculos e a abertura para novas experiências.

Temos três estados básicos (segurança, hiperativação e hipoativação), descritos pela Teoria Polivagal de Stephen Porges, que são bússolas de orientação no trabalho com o trauma.

Localizar onde alguém está neste continuum que vai do estado de segurança aos diferentes graus do estado de ameaça (hiperativação e hipoativação) nos aponta o que devemos fazer para sair do campo traumático em direção a restaurar a segurança e a saúde.

ESTADO DE SEGURANÇA -> -> -> -> -> ESTADO DE AMEAÇA

 

por Artur Scarpato

Pânico e Trauma Complexo: como entender os “casos difíceis”.

Há passos bem estabelecidos no tratamento da síndrome do pânico. Uma abordagem eficaz foca em três vetores principais: aumentar a capacidade de regulação emocional, ampliar a janela de tolerância e processar as memórias traumáticas ligadas as primeiras crises de pânico. Seguindo este caminho, sensações, emoções e pensamentos deixam de ser vividos como ameaçadores e podem ser integrados ao funcionamento mental do sujeito. Com um tratamento focado nestes vetores, a maior parte dos pacientes consegue superar as crises de pânico e voltar a uma vida livre das limitações do pânico.

No entanto há pacientes que não respondem tão bem ao protocolo padrão e continuam apresentando crises de pânico, apesar da utilização de técnicas e estratégias usualmente efetivas.

Observamos que a maioria destes casos difíceis tem um elemento em comum: traumas complexos. O que leva a traumas complexos são experiências traumáticas precoces, traumas relacionais repetitivos que levam a processos de dissociação, desregulação emocional, problemas vinculares etc.

Na dissociação uma parte da personalidade cinde do restante durante o trauma e a pessoa segue funcionando de modo “aparentemente normal”. No entanto a parte dissociada continua na sombra e retorna em alguns momentos causando sintomas e estados mentais disfuncionais, relacionados a experiência original do trauma. Experiências repetidas de negligência ou abuso com os cuidadores no início da vida podem levar a criança a estados de desamparo e desorganização que ficam dissociados em redes de memória implícita.

Quando a pessoa com trauma complexo entra numa crise de pânico, sua experiência inicial de medo das reações do corpo se amplia, reverberando angústias antigas e profundas. No tratamento, quando vamos processar a memória de uma crise de pânico, nos deparamos com um buraco mais profundo em que surgem camadas profundas de angústia e desorganização, que dificultam que o processamento e a integração se completem.

Os casos de pânico com trauma complexo exigem uma nova direção do tratamento. É necessário um investimento mais intenso na criação de recursos de estabilização e regulação emocional, na construção de um vínculo terapêutico seguro, na identificação e integração das partes dissociadas, demandando um processamento mais gradual e lento.

Seguindo um caminho terapêutico adequado, observamos que mesmo as pessoas com traumas complexos conseguem superar as restrições trazidas pelos sintomas da Síndrome do Pânico.

* por Artur Scarpato

Quando a catástrofe temida já foi vivida

A mente ansiosa teme o futuro, esperando que algo ruim aconteça. É comum na Síndrome do Pânico a pessoa temer uma catástrofe, como perder totalmente o controle, enlouquecer ou morrer.

A perspicácia de Donald Winnicott (*) lhe permitiu perceber que o maior temor de uma pessoa, pode na realidade já ter sido vivido. A catástrofe temida no futuro pode ser reflexo de um trauma passado, algo vivido mas psicologicamente não assimilado.

Uma experiência traumática é subjetivamente intolerável e não integrada, sobrevivendo na memória como um aglomerado de elementos fragmentados: afeto, imagens, sensações, respostas motoras inacabadas, etc.

Muitas vezes o medo que uma pessoa com Síndrome do Pânico tem de vir a enlouquecer deriva do trauma de um ataque de pânico onde ela já se sentiu enlouquecendo. Seu medo de morrer deriva na verdade de um ataque de pânico onde já se sentiu morrendo, sem nenhum amparo.

O trauma já foi vivido, mas não assimilado, nem integrado. Nestes casos a sombra do trauma continua a rondar e apavorar. Porém isso não é percebido como pertencente ao passado, mas como algo projetado no futuro, num horizonte temido.

É necessário ajudar o sujeito a revisitar o trauma passado para assimilar o que foi vivido.

A assimilação do trauma se faz através de dois ingredientes importantes:

– o processo deve ser gradual, titulado, de pouco em pouco, para que seja possível fazer uma integração dos elementos que estavam desconectados.

– o processo ocorre num campo vincular de confiança. A presença do terapeuta como testemunha e fonte de apoio ajudam a tornar suportável aquilo que outrora havia sido intolerável. O compartilhamento da experiência favorece sua integração.

Através deste processo de integração, o trauma perde sua força como sombra ameaçadora e o futuro deixa de ser o horizonte temido do colapso.

* WINNICOTT D WFEAR OF BREAKDOWN. Int. Rev. Psycho-Anal.(1974) 1, 103 London.

por Artur Scarpato

Da Ansiedade à Tranquilidade: Descarga e Regulação Emocional

Toda emoção ocorre como uma onda, com começo, meio e fim. A onda emocional cresce, alcança um pico de intensidade e começa a diminuir, até se dissolver. A tristeza vem, alcança seu zênite, diminui e passa. Porém, em algumas situações, as emoções não vão embora e ficam como um estado constante, como uma tristeza sempre presente, um medo que sempre ronda… Uma das funções do trabalho de regulação emocional é ajudar o organismo a sair deste estado cristalizado de ativação. É necessário promover a descarga da tensão emocional, para que a tristeza dê lugar a serenidade, para que o medo dê lugar a calma.

Um fenômeno comum nos Transtornos de Ansiedade é uma dificuldade desta descarga. Quando a onda de ansiedade/medo poderia começar a baixar, ela sobe novamente, quando poderia descarregar, reativa e sobe. Assim a pessoa não acalma nunca, não descarrega a tensão emocional.

Este processo é influenciado por um fenômeno denominado kindling, em que o cérebro fica sensibilizado a disparar repostas de ansiedade cada vez mais facilmente. No momento em que a emoção começaria a baixar, surge um novo disparador que impede a descida. Este disparador pode ser um pensamento negativo, uma fantasia catastrófica, um medo de relaxar e perder o controle. Assim a pessoa permanece ansiosa sem ter experimentado realmente alívio e calma.

Para descarregar a tensão o corpo dispõe de reações ancestrais de tremores e movimentos involuntários. Neste momento, se o sujeito não se entrega a estas reações involuntárias, impede o processo de autorregulação somática. O medo do descontrole inibe as respostas que seriam necessárias para completar a onda emocional.

No trabalho com os transtornos de ansiedade precisamos restaurar a capacidade regulação emocional, ajudando a completar a onda emocional, de carga seguida de descarga, de tensão seguida de relaxamento, com atenção especial aos processos involuntários de descarga. Para isso exploramos estratégias, técnicas e recursos para ajudar a completar respostas de descarga, saindo do estado crônico de tensão e ansiedade.

por Artur Scarpato.

A regulação emocional através da convergência binocular

Uma crise de pânico é um estado de hiperativação autonômica, com sintomas de aceleração dos batimentos cardíacos, dificuldade de respirar, transpiração, tremores etc.

Existem técnicas que ajudam a diminuir estes sintomas, regulando o sistema nervoso desequilibrado. Exercícios de respiração abdominal lenta e pausada, por exemplo, são clássicos na diminuição dos sintomas de pânico, por reduzirem os sintomas de hiperventilação.

Há outro recurso precioso a ser utilizado em situações de ansiedade, podendo ajudar tanto nas situações de ansiedade antecipatória como no início de uma crise de pânico. São técnicas específicas de convergência binocular. Entre outros efeitos, estas técnicas ativam o reflexo oculocardíaco, que promove uma ativação do ramo ventral do nervo vago, com consequente incremento na atividade parassimpática.

As técnicas de convergência binocular reduzem os batimentos cardíacos, aumentam a sensação de presença e promovem um estado de calma. Seu aprendizado deve ser feito em consultório, para depois poder ser praticado sempre que a ansiedade aumentar.

A prática clínica tem demonstrado bons resultados das técnicas de convergência binocular no processo de regulação da ansiedade. Devemos sempre lembrar que uma das principais metas do tratamento da Síndrome do Pânico é aumentar a capacidade de regulação emocional.

por Artur Scarpato

Quando não ter crises não significa superação

Uma pessoa com Síndrome do Pânico que fica um período sem crises de pânico pode não significar uma real superação. Pode indicar que a pessoa tem evitado situações que disparam suas crises, mas que continua vulnerável a elas.

Quem tem um transtornos de ansiedade como síndrome do pânico, fobia ou fobia social costuma usar uma estratégia clássica para não ter novos picos de ansiedade: a evitação.

Há muitos caminhos de evitação, variando com os disparadores, como evitar lugares onde se passou mal, não se afastar dos lugares seguros, não sair sozinho, limitar certos comportamentos, evitar situações de exposição social etc.

Se alguém tem medo de voar de avião e passa a evitar viagens aéreas, pode passar anos sem ter uma crise. Sua vida pode prosseguir aparentemente na normalidade, mas na verdade continua com o mesmo problema, só que mascarado pela evitação. A evitação tem um custo alto, limitando e privando a pessoa de experiências importantes.

Evitar é um péssimo negócio para quem sofre de um transtorno de ansiedade, pois a evitação tem por efeito reforçar a ansiedade, aumentando o sentimento de impotência e a crença na incapacidade.

A estratégia terapêutica eficaz é de enfrentamento, de exposição. Porém o processo de exposição tem que ser gradual.

Uma exposição intensa demais pode levar a inundação, com retraumatização e sensação de impotência e derrota.

Através da exposição gradual a pessoa pode colocar em prática recursos aprendidos na terapia. É importante desenvolver recursos de regulação emocional para ajudar o corpo a descarregar a tensão e se acalmar. Também é importante entender e aceitar as reações do corpo para não entrar num conflito interno que leva a uma escalada na ansiedade.

Para caminhar na superação de um Transtorno de Ansiedade, temos que substituir a evitação pela exposição gradual, aumentando a capacidade de regulação emocional.

por Artur Scarpato

O Quarto do Medo

Imagine um quarto especial em que você sente ansiedade assim que entra. Enquanto estiver no quarto, a ansiedade não passa, podendo ficar mais ou menos intensa, mas sempre presente e sem nenhum motivo aparente.

Ficando neste quarto você pode perceber os tumultos em seu corpo como a aceleração do coração, a respiração ofegante, o suor frio, o tremor; percebe sua mente desligando ou acelerando e imaginando vários perigos que poderiam lhe ocorrer, sente insegurança, vulnerabilidade e um desejo de sair rápido dali…

É um quarto especial, capaz de produzir ansiedade em qualquer um que entrar.

Este quarto foi imaginado para pessoas que Síndrome do Pânico e por uma razão.

As pessoas com um Transtorno de Ansiedade como a Síndrome do Pânico costumam apresentar Sensibilidade à Ansiedade (Anxiety Sensitivity), que é um medo dos sintomas de ansiedade como se estes pudessem ser perigosos e danosos. A partir deste medo elas desenvolvem mil estratégias de evitação e tentativas de controle que só pioram a situação, gerando ainda mais ansiedade.

Vamos imaginar um Quarto do Medo programável, permitindo num dia focar a atenção nos sintomas físicos da ansiedade, como as alterações cardíacas, respiratórias, térmicas, musculares, etc.

Em outro dia o foco pode ser nos pensamentos negativos, nos cenários temidos e nas fantasias catastróficas.

O objetivo de se frequentar o Quarto do Medo é aprender a transformar a relação com os sintomas da ansiedade. Aprende-se a perder o medo das reações do corpo e a enfraquecer os pensamentos catastróficos negativos.

A estratégia é ir atrás dos fantasmas para encará-los de frente, ao invés de continuar fugindo deles. Mesmo parecendo paradoxal, encarar assim a ansiedade tem por efeito diminuí-la.

As visitas ao Quarto do Medo devem ser graduais. A pessoa escolhe quando entrar e tem liberdade para sair quando quiser. A intenção não é produzir uma avalanche de reações que poderiam retraumatizar, trazendo um sentimento de derrota e reforçando e evitação. Tem que se expor gradualmente, um pouco mais a cada dia, sem inundação, aumentando a janela de tolerância e resignificando a experiência.

O segredo está na atitude mental de observação com aceitação e no respeito ao caminhar devagar, passo a passo.

por Artur Scarpato

Trauma e Janela de Tolerância: o campo produtivo entre o caos e a paralisia.

Uma experiência traumática pode afetar a capacidade posterior de uma pessoa lidar com sua excitação interna – sejam suas reações corporais, emoções ou sentimentos.

Frequentemente as pessoas traumatizadas ficam com uma pequena Janela de Tolerância.

A Janela de Tolerância é o quanto de excitação física e emocional uma pessoa consegue lidar de modo integrado, sem se desregular, sem congelar e nem dissociar.

Podemos pensar na janela de tolerância como uma faixa produtiva entre duas margens problemáticas. Quando a janela de tolerância se estreita, a pessoa entra num dos extremos, de caos ou paralisia.

Na margem de cima, quando a excitação vai além da capacidade de integração, pode surgir descontrole, impulsividade e inundação emocional, com acessos de ansiedade, raiva e/ou choro.

No outro extremo, há mecanismos que buscam uma restrição radical da excitação, surgindo anestesia, depressão, perda de vitalidade e lentificação.

É somente entre as duas margens da janela de tolerância que a experiência interna pode ser assimilada e integrada. Neste estado de integração há possibilidade de uma articulação coerente entre sensações, sentimentos, pensamentos e ações.

A psicoterapia deve trabalhar ampliando esta faixa produtiva da Janela de Tolerância, ajudando tanto na assimilação do excessivo como no descongelamento da rigidez. Assim é possível sair tanto da desorganização caótica da alta exitação como do congelamento defensivo da imobilidade, duas consequências comuns do trauma.

por Artur Scarpato

Destravar o Estado de “Fuga sem Saída”.

As sensações de uma crise de pânico são como a de se sentir ameaçado mas sem escapatória. Há ativação de repostas corporais de fuga mas ao mesmo tempo há paralisia, gerando uma sensação de aprisionamento, impotência e desespero.

Neste estado “travado”, de fuga sem saída, a mente se projeta para o futuro, imaginando consequências catastróficas: vou morrer, vou enlouquecer, vou perder o controle… A imaginação de um cenário trágico futuro ativa ainda mais respostas de ansiedade, num corpo que já está congelado numa mistura de urgência de fuga com desorientação e paralisia.

O primeiro passo é poder identificar o que acontece através de uma auto-observação que aceita o que ocorre dentro de si. Não há um perigo real, mas um sensação de medo travado, que não consegue escapar, que não consegue avançar nem fugir. É importante aprender como este estado interno não é perigoso, para que assim se pare de gerar mais ansiedade com os pensamentos catastróficos negativos.

Em seguida deixamos de lado os pensamentos negativos e nos voltamos para as respostas somáticas. Através da atenção ao que acontece no corpo, buscamos acolher as reações, regular os estados internos e destravar o medo paralisante. É importante identificar e completar, mesmo que na imaginação, respostas somáticas inacabadas de fuga como correr, empurrar, desviar, gritar, chorar etc. Assim as respostas somáticas incompletas vão encontrando solução e o estado emocional ativado de ameaça vai se dissolvendo.

A pessoa com pânico se sente aprisionada numa reação de medo “inescapável”, o que gera um forte sentimento de impotência e confusão. Para sair disto, precisamos reconhecer, aceitar, regular e liberar o estado congelado de fuga sem saída.

por Artur Scarpato

PÂNICO SEM PÂNICO: A PREPARAÇÃO PARA LIDAR COM AS CRISES DE PÂNICO

As crises de pânico – ou ataques de pânico – podem ser experiências traumáticas. A pessoa ficou traumatizada pelo modo como viveu a crise de pânico, com uma sensação de desorientação, descontrole e catástrofe iminente. A partir deste trauma ela passa a viver com uma expectativa ansiosa de ter uma nova crise de pânico, com medo de sentir o descontrole e o terror que sentiu daquela vez, acentuado por fantasias catastróficas de que a próxima crise pode ser ainda pior.

Neste estado traumatizado, qualquer reação interna parece indicar um possível retorno do monstro, daquela experiência tão temida.

A visão do futuro fica limitada pelo trauma passado, um tormento constante de monitoramento das reações do corpo e pensamentos catastróficos, deixando a pessoa sentindo-se sempre vulnerável. Qualquer sinal do corpo parece indicar o surgimento daquela ameaça terrível.

O desafio para quem tem pânico é se preparar para lidar com as crises. As primeiras crises se tornaram traumáticas por pegarem a pessoa desprevenida e despreparada, levando-a um estado de pavor e pânico. Para interromper a repetição das crises de pânico, é necessário uma preparação, com uma nova atitude para enfrentar as ondas de ansiedade.

É importante aprender a ficar mentalmente presente e observar as reações de ansiedade exatamente como elas realmente acontecem e não como a mente fantasia que elas possam se tornar. Esta diferença é essencial. Estar preparado para observar as reações de ansiedade no presente, e não, a olhar as reações esperando o pior – um futuro que seja repetição do passado traumático.

Quando sente os primeiros sintomas, o trauma das primeiras crises deixa a pessoa com medo do que possa vir. Ela não fica presente, observando o que sente, mas começa a imaginar o pior cenário e assim gera mais ansiedade, se apavorando com o que sente e perpetuando o ciclo das crises de pânico.

Quando se consegue realmente a aceitar as reações de ansiedade, torna-se possível viver as crises sem medo, sem pavor, aceitando o desconforto, sem se deixar levar pelos pensamentos catastróficos. Na verdade nunca houve uma catástrofe real, mas uma experiência emocional intensa de medo e desorientação nas primeiras crises, que deixaram a pessoa com pavor de que aquilo pudesse se repetir ou se transformar em algo ainda pior.

A partir do momento que se sabe o que é uma crise de pânico, que se consegue ficar presente no centro da consciência observando as reações, é possível atravessar qualquer “crise de pânico” sem entrar em pânico, sem se apavorar.

Este é o verdadeiro estado de Pânico sem Pânico. A partir daí as crises de pânico vão desaparecendo, interrompendo assim seus ciclos automáticos.

Através de uma psicoterapia especializada fazemos um treinamento formal com técnicas específicas, preparando a pessoa para lidar e superar suas crises de pânico.

por: Artur Scarpato

Observar e Aceitar para Perder o Medo de Sentir Medo

Os ataques de pânico são episódios de intensa ansiedade acompanhadas de reações corporais, pensamentos catastróficos e sentimentos de desamparo.

Geralmente, durante um ataque de pânico a pessoa imagina catastroficamente que suas reações sairão dos limites de uma simples reação emocional, transformando-se em algo muito pior como morte súbita, perda de controle irreversível, enlouquecimento etc. Apesar deste transbordamento nunca ocorrer, ele é sempre fantasiado e temido.

É como se alguém se sentisse a beira de uma abismo, podendo cair a qualquer momento, apesar de nunca cair pois este abismo é somente uma projeção do cinema 3D da mente.

Os ataques de pânico nunca ultrapassam o limite de uma forte reação emocional, não levam a loucura, não matam e sempre, sempre passam. Enquanto se teme estes cenários castróficos, se alimenta as reações de ansiedade, gerando mais ansiedade e aumentando a intolerância em sentir estas reações.

O desafio é aprender a olhar as reações no ataque de pânico como elas são, e não pelo cenário catastrófico que os pensamentos negativos imaginam que elas poderiam se tornar.

Através de práticas de atenção centrada e serena é possível encontrar a familiaridade dos ataques de pânico, nas reações que se repetem e nunca ultrapassam os limites de uma reação emocional, nem mais, nem menos.

Para isto é necessário praticar uma observação centrada e neutra da experiência interna, com uma atitude de aceitação e curiosidade. Em nossa prática começamos fortalecendo a atenção observando elementos neutros, como a respiração nas narinas, para depois de algumas semanas passar a observar os sintomas de ansiedade, mantendo a mesma atitude centrada de aceitação.

É importante que o centro da atenção – o “eu que observa” – possa se diferenciar dos pensamentos automáticos. Assim, no meio do caos de um ataque de pânico, o centro de atenção pode permanecer sereno, observando a turbulência interna, esperando ela passar, sem ser levado pelos pensamentos automáticos negativos e sem ativar o pavor de querer fugir daquele estado.

Neste processo, os ataques de pânico vão deixando de ser alimentados pelo medo de sentir medo. Com a prática desta atenção centrada e serena, os ataques de pânico vão se tornando suportáveis, diminuindo sua intensidade e deixando de ser vividos como uma ameaça de rompimento das fronteiras do eu.

por: Artur Scarpato

Flexibilizar a Atenção para Regular a Ansiedade

O processo de atenção tem relação direta com o estado emocional. Na ansiedade, a mente funciona em estado de alerta, buscando qualquer coisa que possa representar risco e ameaça, seja algo vindo do mundo externo ou de dentro do indivíduo. Neste estado, predomina uma atenção estreita e distanciadora, quando a mente tenta localizar e afastar possíveis ameaças.

Identificamos este modo de atenção nos estados de estresse crônico e nos Transtornos de Ansiedade como Síndrome do Pânico, Fobia Social e Transtorno de Ansiedade Generalizada.

O funcionamento de uma atenção estreita e distanciadora é evidente no modo com que uma pessoa com Síndrome do Pânico se relaciona com as reações em seu corpo. Ela monitora e fica aflita com o que sente, interpretando cada reação como prenúncio de um caos interno que pode eclodir a qualquer momento.

Há um estreitamento no foco de atenção – como se aquilo fosse a única coisa que importasse – e um distanciamento, no qual há uma tentativa de afastar e “se livrar” daquilo que acontece dentro de si.

Nos Transtornos de Ansiedade este modo de atenção estreita e distanciadora tende a se cronificar, contribuindo para a manutenção de um estado ansioso, alerta e tenso que não se relaxa nunca.

Assim como a ansiedade se acompanha de um modo particular de organização da atenção, a cronificação deste modo de atenção contribui para manutenção do estado ansioso.

Um caminho importante para sair do estado de ansiedade cronificado é trabalhar diretamente para flexibilizar o processo da atenção, ativando outros modos de funcionamento atencional.

Através da ativação de um modo de atenção aberto e imersivo, criamos um foco aberto de atenção que recebe e inclui as reações de ansiedade num campo atencional maior sem se fechar sobre a “ameaça”. Ao mesmo tempo, através de um modo imersivo busca-se aceitar – ao invés de afastar – o que é sentido.

Assim é possível interromper a luta contra as reações internas “perigosas” que geram tensão e mantém o aprisionamento na ansiedade. Quando se para de brigar contra os sinais da ansiedade – sejam reações físicas ou pensamentos negativos – a ansiedade diminui e retorna para os limites assimiláveis da janela de tolerância.

A mudança de um modo crônico de atenção estreita e distanciadora para um modo de atenção aberta e imersiva permite uma reorganização do padrão crônico de ansiedade. Assim se pode superar da sensação de caos iminente das crises de ansiedade e atenuar significativamente os níveis de sofrimento duradouro.

Em nosso trabalho de flexibilização dos modos de atenção utilizamos a metodologia de “Open Focus Attention Training” desenvolvidos pelo Dr Lester Fehmi, entre outros recursos.

por: Artur Scarpato

A emoção sem história e a história sem emoção: os traumas na raiz dos transtornos de ansiedade.

Numa situação traumática a mente busca se proteger através de mecanismos para limitar os efeitos caóticos da dor e do sofrimento psicológico. Um destes mecanismo é a dissociação entre emoção e cognição.

A dissociação pode permanecer por anos e a pessoa pode se lembrar do que ocorreu mas sem sentir nenhuma emoção com a lembrança. Ou ao contrário, pode ter intensas reações emocionais mas sem lembrar da situação traumática que originou estas reações.

Os traumas estão na raiz de muitos problemas psicológicos que vão se manifestar posteriormente de modos distintos e vão receber diagnósticos diferentes, apesar de sua raiz comum. Muitos casos de depressão e transtornos de ansiedade, por exemplo, derivam de experiências traumáticas. Estes traumas podem ficar aparentemente adormecidos dentro da pessoa até serem ativados por experiências posteriores que reverberam aquela mesma problemática e disparam uma nova expressão para o sofrimento.

Quando vamos investigar casos de fobia social, por exemplo, comumente vemos que a emoção atual de ansiedade é uma reativação de emoções de experiências traumáticas que estavam dissociadas, como experiências traumáticas de humilhação, vergonha, bullying, rejeição etc.

Em casos de Síndrome do Pânico e Agorafobia frequentemente encontramos experiências traumáticas de violência, perda, abandono, separação etc.

A experiência emocional dissociada permanece em segundo plano como combustível alimentando os sintomas atuais.

Nos casos mais difíceis, que respondem mais lentamente ao tratamento, traumas complexos do passados tem presença importante. O sofrimento atual não pode ser totalmente resolvido enquanto não se integra as experiências traumáticas cindidas. Conforme avançamos no processo psicoterapêutico, os elementos cindidos voltam a se integrar, a memória emocional se conecta com a memória narrativa do que foi vivido.

A integração entre a história de vida e a reação emocional – entre cognição e emoção – é que vai permitir a pessoa superar seu sofrimento atual, sua depressão, sua fobia, seu pânico, seu trauma.

(Artur Scarpato)

Tratamento Psicológico como Primeira Opção

A Psicologia tem evoluído significativamente no desenvolvimentos de técnicas e abordagens com eficácia comprovada no tratamento de diferentes problemas mentais. Um fato importante que ilustra esta evolução ocorreu na Inglaterra no ano passado.

No início de 2014, o Instituto Nacional para a Saúde e Excelência em Cuidados (NICE, em inglês), órgão oficial do governo inglês, publicou as novas diretrizes para o tratamento de vários transtornos mentais. A partir de agora, para diversos transtornos mentais, o tratamento psicológico é a primeira opção de tratamento, tendo precedência sobre os tratamentos medicamentosos.

Segundo o NICE, entre os transtornos que devem ser tratados preferencialmente com tratamento psicológico estão todos os Transtornos de Ansiedade como Pânico, Fobia Social, Estresse Pós Traumático, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno Obsessivo Compulsivo e Transtorno Dismórfico Corporal.

Esta é uma mudança importante, reconhecendo o avanço das teorias e técnicas desenvolvidas nas últimas décadas. Os resultados positivos dos tratamentos psicológicos se mostram cada vez evidentes e consistentes, tornando-se agora o tratamento padrão para os transtornos de ansiedade.

É importante que cada vez mais pessoas na população possam se beneficiar destes avanços nas técnicas psicológicas e que um contingente maior de psicólogos possam ser treinados nestas abordagens eficazes.

Você pode ler o anúncio das novas diretrizes do NICE para os Transtornos de Ansiedade (em inglês) aqui.

(Artur Scarpato)

Pânico, Excitação Fisiológica e Sentimentos Profundos

Toda pessoa com um Transtorno de Ansiedade como o Transtorno do Pânico costuma apresentar hipersensibilidade a ansiedade, que é um processo de intolerância na qual as reações físicas ou psicológicas que acompanham a ansiedade são vividas de modo aflitivo e interpretadas como perigosas.

É comum o sujeito ficar com medo e aflito com sua excitação fisiológica como batimentos cardíacos, sensações respiratórias, tremores, suor, tontura etc. Esta “hipersensibilidade” leva a tentativas de se livrar das reações ou a se tentar tudo evitar senti-las novamente, como se elas fossem terríveis, abomináveis. Há um aprisionamento num processo de aflição – evitação.

As reações corporais temidas despertam ansiedade e pensamentos negativos sobre o que se sente. Porém a ansiedade gera mais reações físicas e estas levam a mais pensamentos negativos, num redemoinho sem fim. A pessoa fica aprisionada, tentando evitar o inevitável, pois junto da emoção de ansiedade – assim como de qualquer emoção – sempre haverá excitação fisiológica.

Algumas abordagens de tratamento tentam calar esta voz do corpo, com medicações excessivas ou “técnicas de controle da ansiedade”. No entanto quanto mais se tenta abafar a voz do corpo, mais ele se revolta e grita, pois não se pode calar aquilo que a própria atitude de aversão e medo estão acentuando. Não se vence o medo com mais medo.

Há um caminho terapêutico. É necessário construir uma atitude de enfrentamento do que se sente. Esta nova atitude começa com o cultivo da atenção plena, do claro entendimento e da força interna para fazer a travessia necessária. Este enfrentamento é mais fácil quando feito através de uma estratégia terapêutica planejada e apoiada numa relação profissional de confiança.

Devemos frisar que o cerne do problema da insegurança e ansiedade não está naquelas reações do corpo. A raiz do problema está em sentimentos de desamparo e vulnerabilidade que tem raízes em traumas vividos em outros momentos da vida.

É neste ponto mais profundo que precisamos chegar para que a pessoa enfrente dores que no passado foram intoleráveis, angústias que não podiam ser nomeadas e seus grandes desafios existenciais. Estes elementos agora poderão ser reencontrados, elaborados, assimilados e integrados, permitindo que a pessoa possa se transformar para seguir mais plena em sua vida.

Enquanto não fizer a travessia do enfrentamento das reações superficiais de ansiedade, a pessoa pode ficar anos de sua vida vivendo de modo limitado, com medo das reações físicas, achando que controlar o corpo é suficiente para ficar bom, enquanto o problema está num lugar mais profundo.

É necessário mirar e atingir o alvo certo para evitar o desperdício de tempo, de anos de vida em lutas improdutivas.

(por Artur Scarpato)

O lado positivo da ansiedade

A ansiedade não é boa nem ruim. É uma emoção, um estado mental e corporal que se ativa sempre que nossa mente avalia uma situação como tendo riscos potenciais. O disparador pode ser o pressentimento de algo incerto ou a antecipação de uma situação futura temida.

Há um lado positivo na ansiedade. Podemos imaginar, por exemplo, a ansiedade que antecede uma apresentação numa reunião de trabalho ou a participação numa competição esportiva. A ansiedade tem um papel relevante na preparação para o enfrentamento destas situações, ativando a máxima utilização dos recursos internos para um bom desempenho.

Pouca ansiedade poderia levar a uma atitude de negligência e a uma preparação insuficiente para se obter bons resultados.

Um grau ótimo de ansiedade, por seu lado, ativa um estado de alerta e prontidão adequados, preparando a pessoa para lidar bem com desafios que podem se apresentar.

Quando a ansiedade é excessiva, por outro lado, pode haver paralisia, descontrole e comprometimento da performance.

Geralmente o excesso de ansiedade decorre de se exagerar na avaliação dos riscos envolvidos e de se subavaliar os recursos internos para se lidar com a situação. Outro fator importante para uma experiência de ansiedade excessiva é quando a pessoa está ansiosa mas acredita que “deveria” estar calma. Por não aceitar e não tolerar sentir ansiedade ela passa a entrar em conflito, a brigar com o que está sentindo e acaba ficando ainda mais ansiosa.

É fundamental aprender a tolerar certo nível de tensão e ansiedade que é natural em qualquer situação desafiadora.

Aprender a lidar com a ansiedade e saber agir sob seu efeito é um recurso importante para se obter bons resultados nas diversas situações da vida.

(por Artur Scarpato)

Remover a Espuma para Chegar a Raiz da Dor

Há um caminho terapêutico eficiente na terapia dos Transtornos de Ansiedade, como a Síndrome do Pânico (Transtorno do Pânico) e a Fobia Social.

Quando se sente ansiosa, a pessoa fica aflita e vive lutando contra com o que sente – os sintomas da ansiedade – como se estes fossem sinais de um perigo iminente.

Porém, quanto mais alguém luta contra a ansiedade, mais ansioso se sente, mais sintomas tem, e logo mais ameaçado vai se sentir por aquele estado que tenta evitar. Esta batalha contra a ansiedade é uma batalha fracassada.

O verdadeiro caminho de recuperação é oposto e até contra-intuitivo. A pessoa quer se afastar do que sente, mas o que realmente ajuda é aprender o modo certo de se aproximar da experiência ansiosa.

Primeiro, é necessário perder o medo das reações corporais. Reações que acompanham um ataque de ansiedade como taquicardia, falta de ar e tontura são desconfortáveis, mas não precisam ser vividos como perigosos.

Geralmente a pessoa vive estas reações como alarmantes e desesperadoras, acompanhadas de pensamentos automáticos negativos de que poderiam trazer consequências catastróficas. Esta aversão e medo precisam ser transformados. Há estratégias e técnicas para isto.

Por exemplo, através de técnicas de exposição gradual às reações corporais temidas é possível transformar a relação com estas sensações e aumentar a tolerância a ansiedade. Este processo pode começar com um treino onde se aprende a observar os sinais da ansiedade sem tentar controlá-los. Observar e aceitar.

Depois se parte para técnicas que produzem – gradualmente – aquelas reações temidas. Este processo gradual e controlado vai produzindo uma reaprendizado sobre a ansiedade e todas as reações corporais concomitantes.

Após esta etapa de exposição interoceptiva – exposição as sensações corporais – há um aumento significativo na tolerância aos sintomas da ansiedade, geralmente com uma diminuição significativa na ocorrência de ataques de ansiedade.

Porém, nesta etapa, os ataques continuam a ocorrer esparsamente e a pessoa ainda se sente um pouco vulnerável e insegura. Neste momento intermediário da terapia vamos partir para um mergulho mais profundo nas fontes reais das crises de ansiedade.

Quando não são mais as reações do corpo que ameaçam, chegamos mais próximos das raízes das crises de ansiedade: a ameaça trazida por estados psicológicos profundos de vulnerabilidade. Estes estados são compostos de sentimentos antigos e experiências intoleráveis que não foram bem assimiladas. Através de técnicas específicas, é possível ir se aproximando destas experiências, onde comumente encontrarmos sentimentos profundos de abandono, solidão, fragilidade, desamparo, fracasso etc.

O caminho terapêutico de superação está em ajudar a pessoa a entrar gradualmente em contato com aquelas experiências emocionais. Aquilo que era estranho, indizível e insuportável, vai podendo ser experienciado, nomeado e tolerado.

Assim como foi necessário aprender a tornar as reações corporais suportáveis, agora é a vez de tornar suportáveis os estados emocionais e dores psicológicas mais profundas, para que a aproximação destes deixem de disparar reações intensas de ansiedade.

Sempre que estas experiência profundas ameaçavam surgir, o sujeito se assustava com as primeiras reações em seu corpo, sendo enredado por uma espuma de sofrimento superficial que não lhe deixava entrar na raiz mais profunda do problema. Precisamos remover a espuma do medo das reações corporais para ajudar o sujeito a confrontar suas angústias profundas e assim se libertar das crises de ansiedade.

Para percorrer este caminho precisamos de um processo estruturado. Nisto reside a eficácia de um tratamento especializado.

por Artur Scarpato.

O Corpo como Lar

As crises de ansiedade produzem uma turbulência corporal: aceleração cardíaca, tremores, falta de ar, suor frio, boca seca, tontura…o corpo parece dominado pelo caos.

Sentindo-se ameaçada, a pessoa vive alerta, monitorando o que sente, torcendo para que seu corpo fique “quieto”. Este medo das sensações corporais acentua tendências de dissociação, onde as reações corporais perdem sua conexão com as emoções e sentimentos e são vividas como estranhas e ameaçadoras.

Assim dissociada, a pessoa vê o que acontece de modo catastrófico. Ao invés de expressão da emoção, aquelas reações corporais são interpretadas de modo distorcido, como indícios de uma catástrofe iminente. Esta visão negativa aumenta a ansiedade, intensificando ainda mais as reações corporais.

É comum um alerta e um constante monitoramento do corpo, com certo desejo de “sair do corpo”, de não sentir mais nada. Instala-se um conflito interno e um medo das sensações e experiências somáticas.

Apesar do desejo de não sentir, de se afastar do corpo, o caminho que precisa ser seguido é o oposto, de habitar o corpo e voltar-se para o que se sente com uma nova atitude.

A atitude necessária é de aceitação do desconforto da experiência ansiosa. Assim se cria maior tolerância para o sentir, com menos medo das reações internas.

Toda técnica que ajude a observar as reações corporais – agradáveis ou desagradáveis – ajuda no processo de reconectar-se a experiência do corpo como fonte das experiências internas.

A sintonia interna com a experiência somática é fundamental para que os sintomas de ansiedade deixem de representar uma ameaça.

Identificada com o corpo, portanto menos dissociada, a pessoa vai aumentando sua tolerância as reações de ansiedade e vai aumentado suas experiência positivas.

Enraizar-se na experiência somática é um norte que deveria orientar os tratamentos dos transtornos de ansiedade.

(por Artur Scarpato)

Um Centro de Estabilidade no Meio do Caos

Numa crise de pânico a pessoa reage com sintomas de medo quando não há nada em volta que pareça justificar aquelas reações.

Esta experiência de “medo sem causa” é assustadora, pois sempre buscamos ligar o sofrimento a uma causa identificável, visível. Como é difícil ficar com este “medo sem objeto”, a pessoa começa a temer as consequências daquele estado, como se aquilo fosse levar a alguma consequência catastrófica, a morte, a um desmaio, como se não fosse passar nunca…

A experiência de uma crise de pânico leva a uma vivência psicológica de desamparo, pela falta de referências, pela falta de sentido. A pessoa se sente entregue ao destino, sem proteção nem garantias.

Neste momento existe um recurso dentro da pessoa que pode ajudá-la. É próprio da natureza humana uma capacidade de vivenciar algo e ao mesmo tempo se observar na vivência. Temos dois níveis de experiência mental; enquanto estou comendo um pedaço de chocolate, posso também me perceber comendo, observar o sabor, os movimentos da boca, etc.

A consciência pode tomar outros processos da mente como objetos de atenção. A consciência pode dirigir seu foco para sensações, emoções e pensamentos sem estar totalmente identificada com estes processos.

No caso de um ataque de pânico, a pessoa pode aprender a ativar esta consciência observadora para observar suas reações numa crise de pânico.

Ao mesmo tempo em que está lá, ansiosa, aflita, com aquelas reações em seu corpo e aqueles pensamentos catastróficos, mantém parte de sua presença centrada em sua consciência, observando aquilo que se desenrola no teatro de sua mente e de seu corpo.

Surge assim, a experiência direta e ao mesmo tempo a testemunha da experiência. Eu estou sofrendo, mas também observo minha dor, a partir de um lugar seguro, dentro de mim.

Ao fazer isto algumas mudanças começam a acontecer. A atitude de se observar de modo neutro a partir do centro da consciência ajuda a criar um ponto de referência no meio do caos, um lugar interno de estabilidade.

Eu vou deixando de estar totalmente entregue a experiência desamparada de pânico. Na medida em que posso observar o que sinto, passo a me acompanhar, com possibilidade de aceitar o que sinto. Neste momento, “eu sou comigo mesmo”.

Esta presença de si consigo durante um episódio de tanto sofrimento, produz uma transformação fundamental no processo do pânico, pois aquilo que parecia sem sentido, avassalador, vai se relativizando, sendo uma experiência que volta a se repetir e pode sempre ser observada.

Depois de passada a experiência da crise é importante que o sujeito também aprenda a expressar aquilo que viveu através de palavras – faladas ou escritas – para que aquilo que era da ordem do indizível e insuportável, vá ganhando forma e contorno. A nomeação ajuda a tornar familiar o que era estranho e assustador.

Neste processo a pessoa aprende a “ser consigo mesma” e a dar continência para aquilo que parecia totalmente sem sentido e parecia ameaçar tanto sua experiência de ser.

A crise de ansiedade e pânico, uma experiência de “vulnerabilidade do ser”, vai se transformando e se tornando uma experiência suportável, cada vez menos assustadora. Assim as crises e ataques de pânico vão se enfraquecendo gradativamente.

(por Artur Scarpato)

Mindfulness e os Transtornos de Ansiedade

Um fator comum nos Transtornos de Ansiedade é uma baixa tolerância a ansiedade e uma tendência de interpretar esta experiência emocional como potencialmente perigosa.
Esta aversão a experiência ansiosa leva a pessoa a ficar mais ansiosa cada vez que sente ou antecipa sentir os sintomas de ansiedade.

Para “não sentir mais aquilo”, desenvolve muitas estratégias de evitação, controle e fuga. No entanto, quanto mais tenta evitar sentir ansiedade, mais intensa a emoção fica, o que só agrava o problema.

É necessário aprender outros modos de lidar com a ansiedade, como vivenciá-la sem entrar em desespero, aumentando a tolerância interna.

Outra característica do ansioso é viver em estado de pre-ocupação frequente, sofrendo numa expectativa negativa de futuro, a partir de cenários que vão se configurando em sua mente. Trazer a mente para o presente é uma estratégia fundamental no trabalho com a ansiedade.

Nos últimos anos vem sendo pesquisado os benefícios de um processo mental específico ativado em algumas práticas de meditação. É o processo de Mindfulness ou Atenção Plena.

De modo resumido, a prática de Mindfulness envolve: (1) o direcionamento da atenção para a experiência imediata, presente, (2) com uma atitude de aceitação, curiosidade e abertura.

O estudo científico do processo de atenção plena tem permitido o desenvolvimento mais preciso de recursos terapêuticos que podem ajudar no tratamento psicológico dos Transtornos de Ansiedade (Pânico, Fobias, Traumas, TAG, etc).

Através desta prática – adaptada a psicoterapia – é possível aprender a observar de modo “neutro” a experiência presente, as reações da ansiedade no corpo, os pensamentos negativos e as tendências de evitação e fuga. Neste aprendizado aprende-se a observar sem julgar, sem tentar interferir na experiência… entrar numa atitude onde não há nada a ser mudado, a ser corrigido… apenas reconhecido.

A emoção e os pensamentos negativos podem ser observados, o que cria uma diferenciação interna entre o centro da consciência (eu que observa) e os fenômenos observados (reações corporais, pensamentos, etc). O “eu que observa” pode reconhecer a turbulência interna e permanecer sereno em sua atitude de reconhecimento e aceitação.

Ao mesmo tempo há uma diminuição na ansiedade antecipatória, pois a pessoa começa a cultivar um estado de presença.

Se a pessoa parar a briga interna contra a ansiedade, deixar de tentar se livrar do que sente e se permitir sentir, ela inicia uma mudança fundamental em sua psique. Começa a se criar uma transformação interna, onde a ansiedade pode ocupar um espaço interno e a tensão e o conflito diminuem.

É fundamental diferenciar aquilo que se pode controlar daquilo que não se pode controlar. Ao lidar com emoções, as tentativas de controle são bastante problemáticas, pois as emoções sempre voltam e a luta interna cria mais tensão e mais ansiedade. O melhor caminho é de compreensão e aceitação.

Aceitar não é resignar-se passivamente, mas abrir espaço para perceber a experiência direta da ansiedade e responder de outro modo, saindo das reações automáticas de aflição, evitação, fuga e pânico.

É possível interferir nos graus da ansiedade?
Sim, há técnicas e recursos para isto, mas enquanto a pessoa não mudar sua relação com a experiência ansiosa, estará fadada a fracassar em sua recuperação, pois a intolerância faz com que tente controlar e evitar aquilo que não se pode controlar.

Lutar contra a própria emoção só aumenta o sofrimento. Paradoxalmente, é através do caminho da aceitação que a ansiedade pode começar a diminuir.

(por Artur Scarpato)

Aceitar a Ansiedade, Não Querer Evitá-la

“Como eu faço para desligar isto?”

Este é o desejo comum de quem tem algum Transtorno de Ansiedade.

A pessoa não apenas se sente ansiosa, mas fica aflita, querendo logo se livrar daquele estado interno.

Há um medo das reações internas, como se fossem perigosas, pudessem piorar e levar a uma possível catástrofe. As fantasias e pensamentos automáticos negativos costumam criar um cenário ruim, muitas vezes com desfecho trágico, que faz com que a pessoa tenha medo de permanecer naquele estado ansioso.

Quem tem síndrome do pânico, por exemplo, teme as reações em seu corpo e fantasia consequências negativas como ter um ataque cardíaco, desmaiar, etc se permanecer no estado ansioso.

Para quem é fóbico, a aproximação da situação ou objeto temido, leva a uma ansiedade que a pessoa avalia como “insuportável”.

Uma pessoa com TOC fica ansiosa com seus pensamentos obsessivos e sente uma urgência interna de se livrar deste estado interno através de rituais compulsivos.

Para fugir deste sofrimento temido, a pessoa busca estratégias para se livrar daquela experiência de ansiedade: sair da situação, buscar apoio de alguém de confiança, lutar contra os pensamentos, desviar a atenção do que sente, seguir rituais, etc.

O que se tenta evitar é uma experiência interna. Paradoxalmente, esta evitação da experiência é justamente o que mantém a pessoa aprisionada num transtorno de ansiedade.

Enquanto teme suas reações ansiosas, apresentando comportamentos de evitação e fuga, a pessoa mantém intocadas as fantasias irracionais e distorcidas que avaliam o estado de ansiedade como perigoso. Ela permanece presa em seus sintomas evitando as reações do corpo, os objetos/situações, os pensamentos, como se estes fossem o problema.

Na realidade o problema está na enorme intolerância a ansiedade e na constante busca de evitação da experiência. Quanto mais briga contra a ansiedade e quanto mais pensa que não pode ficar ansiosa, mais sofre por se sentir ansiosa. Aquilo que mais evita é o que mais acontece.

Essaarmadilha da evitação é reforçada por tratamentos que buscam o caminho da eliminação dos sintomas de ansiedade.

Se a pessoa utiliza recursos para “controlar” sua ansiedade, pode ter uma sensação inicial de alívio. Porém a ansiedade, como toda emoção humana, vai reaparecer em momentos de maior estresse e tensão. E quando reaparece o sujeito frequentemente vive aquele retorno como uma “recaída”, como um fracasso.

Na verdade o problema ainda não foi resolvido, o que implicaria em aprender a transformar a relação com a vivência da ansiedade.

Paradoxalmente, quando a pessoa pára de lutar contra a ansiedade, esta começa a incomodar muito menos.

Mas como fazer isto?

Na ansiedade há um bloco de reações corporais, estados emocionais e processos cognitivos. Este bloco é de difícil assimilação, produzindo uma experiência de inundação e transbordamento de emoção.

Precisamos decompor a crise de ansiedade em seus diversos componentes, discriminando cada sensação interna, cada pensamento automático negativo, cada nuance de emoção… é necessário ir desfazendo o bloco, tornando aquelas reações mais aceitáveis, familiares e toleráveis.

A desconstrução da reação de ansiedade para torná-la uma experiência assimilável é parte de um tratamento psicológico especializado.

Um bom caminho terapêutico passa por:

– Cultivar e fortalecer o “eu que observa” através de práticas de atencão plena, aprendendo a contemplar e discriminar a paisagem interna de reações corporais, sentimentos, pensamentos etc.

– Identificar e se diferenciar das fantasias e pensamentos negativos que assustam e criam cenários temíveis.

– Expor-se gradativamente a situações e estímulos que produzem ansiedade, para criar uma habituação ao desconforto sem brigar com o que sente.

Assim a pessoa aprende a criar um espaço de continência para a ansiedade, aprendendo a conviver com este estado sem ter a vida paralisada e o pensamento escravizado com preocupações de passar mal.

Neste processo, o “monstro” da ansiedade vai sendo gradativamente redimensionado e os transtornos de ansiedade vão cedendo caminho para a continuidade do crescimento psicológico.

(por Artur Scarpato)

O Comportamento Humano nas Tragédias Coletivas

Quando ocorre uma tragédia – como o triste incêndio que vimos em Santa Maria (RS) – é comum ouvirmos que houve um “comportamento de manada”, onde pessoas “entraram em pânico”, que a situação era “caótica”, e predominava o “cada um por si”.

Muitas pesquisas tem sido feitas ao redor do mundo com pessoas que sobreviveram a diversas tragédias como incêndios, inundações, tumultos, ataques terroristas, etc.

Através destas pesquisas, muitas idéias dominantes no senso comum tem sido revistas, como o de que as pessoas entram facilmente em pânico, agindo de modo irracional ou que sempre predomina o comportamento egoísta, onde cada um tenta salvar sua própria pele sem se importar com os outros.

A investigação científica das situações de tragédias, por exemplo, derruba o mito do egoísmo extremo, demonstrando que o comportamento predominante é de cooperação e solidariedade. Geralmente as pessoas começam ajudando quem está com elas e tendem a estender esta ajuda aqueles desconhecidos em volta, criando um forte sentimento de identidade coletiva.

Existe um ponto crítico, no entanto, em que o comportamento tende a mudar e a sobrevivência passa a contar mais do que o sentido de coletividade. Para que ocorra esta mudança na direção do comportamento precisam ocorrer duas condições simultâneas: as pessoas se sentirem sem saída e sob o risco iminente de morte. Num incêndio, por exemplo, quando o fogo está próximo, a fumaça intoxicando e as saídas parecem escassas, fugir imediatamente da situação torna-se imperativo para preservar a própria vida.

Nesta hora crítica o estado emocional de pânico entra em ação, ativando padrões automáticos de comportamentos de luta/fuga. O comportamento racional, solidário e cooperativo dá lugar então a um comportamento de emergência, em que sair da situação torna-se a única prioridade.

Quando as pessoas entram neste estado emocional de pânico, acabam se empurrando, se atropelando, o que aumenta os danos de uma tragédia, com pessoas que morrem pisoteadas e sufocadas no meio da multidão tentando sair de um lugar ameaçador em saídas insuficientes.

As pessoas não saem correndo, se empurrando porque estão agindo de modo cruel e caótico, mas porque estão agindo sob o imperativo da preservação de suas vidas, num comportamento automático de fuga, disparado pelo estado emocional de pânico. Seu comportamento não é irracional, desvairado, mas atende a uma lógica primária de preservação da vida. Com o perigo aumentando e a sensação de risco de morte iminente, sair da situação o mais rápido possível é o comportamento mais coerente pela lógica de preservação do cérebro humano. Depois de sair, muitas pessoas voltam para ajudar os outros, muitas vezes até colocando em risco a própria vida.

O que aumenta as mortes e danos numa tragédia não decorre do “comportamento irracional” das pessoas, mas das limitações do ambiente, como insuficiência de saídas, ausência de sinalização, falta de liderança e treinamento em procedimentos de evacuação, etc.

Estas falhas contribuem para conduzir os sujeitos a entrarem em pânico, neste modo psicológico de “emergência total”, quando precisam sair urgentemente do local visando a própria sobrevivência. Nesta hora crítica, o comportamento é conduzido individualmente, o que cria um novo perigo. Na ausência de coordenação das ações por uma liderança e de estrutura adequada de saídas, surgem as tristes cenas de empurrões e pisoteamentos involuntários.

As estratégias para lidar com tragédias precisam oferecer condições para as pessoas saírem daquela situação antes de entrarem neste “modo de pânico”. Esta deve ser uma prioridade no planejamento arquitetônico de espaços públicos e no desenvolvimento de estratégias de evacuação.

De modo geral, situações trágicas mostram que o ser humano tem uma forte tendência de cooperação e cuidado recíproco. Explicitam também como nossas emoções estão programadas para facilitar comportamentos coerentes para lidar com perigos reais e preservar a vida. Com planejamento e ações coordenadas deve-se evitar que a situação chegue ao ponto crítico da fuga individualizada sem uma estrutura adequada para saída.

(por Artur Scarpato)

Pensamentos escravizantes, TOC e ansiedade

No Transtorno Obsessivo Compulsivo o sujeito se vê atormentado por pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos. Vamos pensar num exemplo. A pessoa tem um pensamento de que está com as mãos sujas. Ela, então, lava suas mãos. No entanto, o mesmo pensamento logo volta a sua cabeça. A pessoa tenta dialogar consigo mesma lembrando-se que acabou de lavar as mãos, mas seu pensamento automático é insensível a razão, dizendo para ela que as mãos ainda estão sujas. Vem ansiedade e aflição com a ideia de estar com as mãos sujas, contaminadas. Na ânsia de aliviar este sofrimento, surgem as compulsões – rituais e comportamentos repetidos – que tentam aliviar a tensão e ansiedade trazidos pelo pensamento obsessivo. Neste processo a pessoa pode sentir-se compelida a lavar suas mãos 20 vezes, por exemplo, sempre sendo recapturada pelos pensamentos intrusivos que insistem na sujeira…

Há um ciclo básico no qual uma preocupação (pensamento obsessivo) gera ansiedade (emoção), e o sujeito se sente “compelido” a aliviar esta tensão emocional através de um comportamento (compulsão).

Enquanto não realiza o ato compulsivo há uma vivência de ansiedade e o pensamento se repetindo dentro da cabeça, num intenso tormento. O ato compulsivo traz um alívio passageiro da ansiedade, mas logo os pensamentos obsessivos voltam. Na verdade, a cada vez que se age para aliviar a tensão (como lavar as mãos), reforça-se o ciclo dos pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos.

Qual a saída? A proposta terapêutica que traz melhores resultados consiste em ensinar a pessoa a não aliviar sua ansiedade através de rituais e comportamentos obsessivos. Ao invés disto, aprender a conter o comportamento e suportar níveis maiores de ansiedade.

Como é comum nos Transtornos de Ansiedade, a pessoa com TOC não sabe lidar com a ansiedade que sente. Assim que fica ansiosa, começa a “brigar” com o que sente, ficando aflita por sentir-se daquele modo. A luta interna contra a ansiedade aumenta ainda mais o nível de tensão.

O caminho de recuperação passa por aceitar a ansiedade como um estado desconfortável, mas que pode ser tolerado. Se expondo ao que sente, a pessoa vai se habituando à ansiedade e esta vai perdendo força gradativamente. Como decorrência, os pensamentos obsessivos tendem a se enfraquecer paulatinamente até se extinguir. Isto é possível dentro de um processo estruturado e gradual de exposição e prevenção de resposta.

Aprender a lidar com a ansiedade é um passo essencial para superar as limitações trazidas pelo Transtorno Obsessivo Compulsivo.

(por Artur Scarpato)

A vida não vivida

Frequentemente vejo pessoas que chegam (finalmente) para terapia depois de anos e às vezes décadas de sofrimento psicológico. Ela tem suas vidas limitadas pelo medo de ter uma crise de pânico, pelo receio de passar constrangimento numa situação social, por ser escravizado por rituais obsessivos, por temer reviver algum trauma…

Estas pessoas estavam vivendo vidas precárias, privadas de satisfação, empobrecidas de oportunidades, sem nunca terem efetivamente buscado e enfrentado um tratamento psicológico especializado que poderia resolver seus problemas. Muitas destas pessoas iam “levando a vida”, com um controle precário de sintomas, muitas vezes com a ajuda de alguma medicação prescrita anos atrás. Mas o que ressalta aos olhos é a ausência de busca de uma ajuda que resolveria de fato o problema.

Quanta vida não estava sendo vivida? O que a pessoa faria se não estivesse consumindo tanto de seu tempo e energia lutando com seu sofrimento?

Hoje a Psicologia vive um desafio importante, de aumentar o conhecimento de sua eficácia, para que as pessoas saibam que existem tratamentos psicológicos especializados para diferentes transtornos psicológicos e que o sofrimento mental não é algo com o qual a pessoa tem que se acomodar tristemente.

A vida pode ser vivida mais plenamente.

(por Artur Scarpato)

A Limitação da Vida Mental pela Ansiedade Excessiva

Uma das características de um transtorno psicológico, como os transtornos de ansiedade é a restrição da vida mental. A pessoa que antes tinha certa liberdade de pensamento, de sentimento e de ação passa por um processo de limitação progressiva de sua vida psicológica. Quanto mais grave o transtorno de ansiedade, mais a vida mental da pessoa é dominada por preocupações, ruminações, medos e evitações.

A pessoa com Transtorno do Pânico (ou Síndrome do Pânico), por exemplo, fica parte do tempo temendo uma nova crise, imaginando situações catastróficas, monitorando sensações temidas em seu corpo, evitando se expor a situações onde ela teme ter um ataque de pânico. De modo bastante parecido funciona alguém tomado por Transtorno de Estresse Pós Traumático, Fobia Social, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), etc.

A mente da pessoa fica enclausurada em pensamentos negativos, preocupações repetitivas, inquietação, alerta, rituais, etc. Nos casos mais graves, estes processos mentais negativos passam a ocupar a maior parte do dia e da energia mental da pessoa.

A energia mental que poderia ser direcionada para criatividade, trabalho, estudo e realizações pessoais, vai sendo consumida pelo sofrimento.

A Psicologia dispõe atualmente de estratégias, técnicas e abordagens especializadas eficazes para ajudar uma pessoa com um Transtorno de Ansiedade a melhorar drasticamente de seu sofrimento. A reconquista da liberdade psicológica é essencial para o sentimento de bem estar existencial e para a realização de potenciais criativos na vida.

(por Artur Scarpato)